Se eu chegar a velha vou voltar a fumar Pinto os lábios de vermelho e fumarei cigarros longos e finos Se tiver memória vou sentar-me no quintal E com um megafone vou dizer o que penso Da vida, do tempo e de quem passa Vou usar saltos altos com meias brancas com duas raquetes Daquelas…

Esta foto tem 15 anos. A minha memória é uma merda, por isso gosto tanto de tirar fotos, capturar momentos e escrever sobre eles. São cábulas para atalhar caminhos e num instante consigo remeter-me para os sentimentos ou as vivências. Recordo-me do calor. Dos girassóis. Do caminho. E do quanto quis gravar aquele momento, principalmente…

Nas ruas deambulam pessoas que pagaram por promessas que resultaram num vazio de tudo. Deixaram para trás um país e uma família endividada e ganharam a certeza que não serão capazes de voltar. Anda por cá também quem vinha com a intenção de entrar numa Europa que lhe foi vendida como uma galinha de ovos…

Aquelas que vivem e fazem o seu caminho tranquilamente. Fazem sempre caminhos paralelos, sem necessidade de cruzamentos ou atropelos. Pessoas gentis, que educam e cuidam só com o olhar. Pessoas que se fazem notar sem necessidade de telefonar. Que sabem estar em qualquer momento. Há pessoas tão inspiradoras.

Eliminei o TikTok e todas as páginas de malta famosa e não famosos que não conheço que seguia no Instagram. Mas por que raio havemos nós de seguir, ler, ver, ter, estar com pessoas que nada nos acrescentam? Adeus!

…nem um único dia que estás aqui. Silencioso à minha espera. Uma página negra. Um linha vertical que pisca nem depressa nem devagar. Pisca infinitamente. Até que eu chego e lhe dou que fazer. Sem angústia e sem pressa. Como Sísifo. Sem nunca desistir.